29 de outubro de 2010

João Vitorino: "O objectivo é a manutenção!"


O blog dos verdadeiros adeptos voltou às grandes entrevista e desta vez para conhecer melhor o nosso timoneiro, João Vitorino. É um homem de trato fácil, humilde e amigo do seu amigo. Nesta entrevista ficámos a conhecer um pouco mais do homem de 53 anos que dirige o FC Crato e que trabalha no Gabinete de Desporto da Câmara Municipal de Nisa. Foi uma entrevista muito fácil de moderar tal a simplicidade com que o mister a encarou e sempre sem se desviar 1mm que fosse das perguntas por nós dirigidas. Viu em nós credibilidade e não se rogou, dando-nos a novidade de 2 reforços (ex-Estrela de Portalegre) já confirmadas. Vem daí conhecer o que pensa João Vitorino do clube, das polémicas, dos objectivos, etc...

BdFCC: Fale-nos um pouco do seu percurso como treinador?
JV: Sou treinador de futebol à 15 anos. Comecei aos 26 anos de idade e acumulava as funções de treinador/jogador no Nisa e Benfica (84/85) com uma equipa muito jovem em que 90% dos jogadores eram oriundos de Nisa. Eu era o mais velho do plantel e conseguimos uma excelente classificação, ficámos em 2º atrás do Fronteira que tinha uma equipa muito boa. No ano seguinte ainda como jogador mas como treinador adjunto, fomos campeões distritais. No futebol nunca foi o dinheiro que me moveu, no entanto na altura recusei um convite em que me pagavam 5 vezes mais do que recebia na minha profissão, mas recusei para poder continuar no clube da minha terra. As causas da minha terra sempre me moveram muito e é esse o meu espírito. Como treinador liderei o Nisa e Benfica, Gavionenses e AD Castelo de Vide, clubes que representei também como jogador e treinei também o AD Mação da AF de Santarém.

BdFCC: Na época 2008/09 tinha sido treinador do FC Crato mas teve uma saída prematura. A que se deveu? Ouvimos dizer que saiu em litígio com a direcção. Confirma?
JV: Sim, confirmo. Contudo é um assunto que não gostava de voltar a revoltar pois sofri muito com ele. Recordo o passado com nostalgia das coisas boas, obviamente isso causou muita mágoa por isso prefiro deixá-la comigo. Não é à 4ª jornada com 3 pontos que se despede um treinador que até aqui vinha a apresentar bons resultados. Íamos jogar ao Cacém e em caso de vitória dávamos um salto na classificação. Confiei nas pessoas e fui traído por elas. Foi muito revoltante, foi muito sujo aquilo que me fizeram mas por incrível que possa parecer fiquei mais forte para os desafios futuros. Tenho um amigo que me encorajou bastante e ajudou a valorizar-me que me disse 3 coisas muito importantes: 1. Dedicaste muito às coisas; 2.Estás adiantado em termos de conhecimento relativamente a todos os restantes do distrito; 3. Continua o teu percurso pois o teu valor é inquestionável.
Foi um ano muito difícil para mim e ainda por cima surgiu o mais grave de tudo, foi diagnosticada uma doença grave ao meu filho que felizmente e aos poucos está a melhorar e o futebol à beira disto é um miragem completa. O mais importante de tudo é a nossa família.
Ainda sobre o assunto, o principal responsável por esse despedimento já afirmou que foi um dos maiores erros da sua vida, cumprimentou-me e eu não lhe virei as costas. Mas não quero falar mais sobre o assunto e não tenho dúvidas que farei tudo para ajudar a engrandecer o nome do FC Crato e lutar pelos meus jogadores e directores.


BdFCC: Foi-lhe feito um convite para esta época. Aceitou-o sem mágoa? Achou o projecto interessante?
JV: Aceitei sem reticências porque vi a frontalidade dos seus directores de me tentar contratar e de repor a justiça relativamente à injustiça que fui alvo à duas épocas atrás. Faltava menos de 24h para o clube confirmar a sua participação no Nacional da 3ª divisão. Quando percebi as dificuldades e sinceridade das palavras dos seus directores decidi ir à luta aplicando tudo o que sei perante as dificuldades apresentadas. Penso que é nas dificuldades que se vêm as pessoas de carácter e são esses os meus instintos. Aqueles que defendo e represento. Fiquei lisonjeado com o convite pois ter sido o escolhido perante o leque de nomes que tinham em carteira foi um orgulho para mim. Em 3 dias contratei 21 jogadores e entreguei o caderno com o planeamento de 2 meses de trabalho à direcção do clube. Naturalmente o projecto passa por realizar o melhor possível e esse melhor possível é a manutenção. Nesta altura do campeonato, concerteza ninguém pensaria que íamos no lugar onde estamos. Se conseguirmos ficar na 3ª divisão e com as dificuldades com que nos deparámos merecemos as faixas de campeão. Reabilitámos jogadores que eram suplentes em Gáfete, Alpalhão e Nisa, contudo nada ainda está feito, há um longo caminho a percorrer.

BdFCC: O que acha do plantel que dirige? Parece ser curto para o concretizar do objectivo?
JV:
Não pretendo mais que 23 jogadores e actualmente temos 21. Para Domingo em Sintrense temos 7 jogadores indisponíveis, entre lesões e castigos. Posso adiantar que fizemos recentemente 2 aquisições (Fábio Colata-trinco e Ricardo Afonso-avançado). O Fábio já irá estar presente contudo o Ricardo só no próximo jogo estará disponível. No entanto se até aqui sobrevivemos com os que temos, no futuro não será diferente. Estou contente com os recém chegados pois tornam o plantel ainda mais competitivo. Se aparecer algum ponta de lança que faça a diferença (bicho raro hoje em dia, risos) aceitarei sem reservas. 22, 23 jogadores é o número de jogadores ideal para mim. Estou satisfeito com o plantel e seria utópico da minha parte se fosse com grandes exigências para a direcção. Em Sacavém na palestra que antecedeu o jogo, disse que entramos num porto seguro e em Maio quero atracar nesse porto seguro em segurança, ou seja com a manutenção assegurada.

BdFCC: Fomos eliminados prematuramente da Taça de Portugal com um dos históricos do futebol português. Deveu-se ao facto da nossa inexperiência?
JV:
Penso que não. Os primeiros minutos a inexperiência teve presente e prestámos vassalagem ao Ac. Viseu. Contudo a meio da primeira parte e em toda a 2ª fomos nós quem mandou no jogo e merecíamos o prolongamento. Nesse jogo ganhámos uma equipa. Tivemos muita personalidade. A primeira meia hora de Sacavém foi outro dos bons momentos, foi uma equipa à minha imagem e a jogar daquela forma podemos dar alegrias aos adeptos.


BdFCC: Já no campeonato, temos tido bons desempenhos. Somo considerados outsiders. Opina da mesma forma?
JV: Sim, estou de acordo, somos os outsiders. Costumo dizer aos meus jogadores o seguinte, 8 equipas de Lisboa, 3 da zona oeste e estes alentejanos do Crato. Hoje somos vistos de outra forma e os contactos que tenho com amigos de Lisboa dizem-me que já somos uma equipa a ter em conta. Quem muito tem contribuído para isso são os humildes jogadores que temos, por isso não os troco por nenhuns de nome sonante.

BdFCC: Consideramos a sua principal lacuna a leitura dos jogos e a deficiente interpretação dos mesmos. Contudo no jogo com o Bombarralense consideramos que foi graças às suas sábias mexidas que se venceu o jogo. Como classifica este nosso pensamento?
JV: Penso que não, não estou de acordo mas respeito a vossa opinião. Contrariamente até considero a minha liderança e leitura de jogo os meus pontos fortes. As minhas equipas jogam sempre da mesma forma, 4x3x3 ou 4x4x2 com mobilidade de processos. Consigo mudar o modelo de jogo rapidamente assim a movimentação do adversário o exija. Quando mexemos na equipa a ideia é a de melhorar e com as soluções que tinha no banco, foi o que foi possível fazer. Conhecendo os jogadores como eu conheço tudo leva o seu tempo. Nos cursos que tirei, tanto no trabalho de campo como teórico fui sempre dos melhores, mas como já afirmei respeito a vossa opinião.


BdFCC: Como vê a série onde participamos?
JV: É das mais fortes. Por exemplo, o próximo adversário é o Sintrense e na sua equipa irá apresentar um experiente guarda-redes, bons laterais, Luís Loureiro ex-Sporting e internacional pela selecção A, Tiago Lemos ex-Estrela da Amadora, jogadores de 1ª divisão. Reforçaram-se inequivocamente para ser campeões. Oeiras, Odivelas, Alcochete são planteis com jogadores oriundos de 2ª B e 1ª divisão. Posso afirmar que esta série E está muito mais competitiva que o ano passado. Vi todos os jogos do Gavionenses o ano passado. É uma série fortíssima e comparando com a de à 2 anos atrás, só cá falta a Camacha que como se sabe já perdeu com o 1º Dezembro na Taça de Portugal.

BdFCC: Sente da parte da direcção total apoio? Tem todas as condições para desempenhar bem o seu papel?
JV: Sim. Quero realçar um coisa. Quando cheguei a acordo com a direcção (20 Julho) eu já sabia para o que vinha, vinha para ajudar a direcção e como é natural todos os clubes têm dificuldades e eu só mais um para ajudar. A direcção não me escondeu nada. Impus as minhas condições, sem exigir muito. Há uma consonância com a direcção, um respeito mútuo e vamos cumprir tudo até ao fim. Não vou ter medo de ninguém, nem com um orçamento 4 vezes inferior ao que outros treinadores cá tiveram e darei o meu melhor. Não admito que enxovalhem os meus jogadores como fizeram no último jogo, pois se o fazem como fizeram ao Cristiano no último jogo estão a ser maus sócios. O Cristiano jogou muito limitado a 50% das suas capacidades. Faço aqui um apelo aos sócios, apoiem a equipa. Sabemos até onde podemos ir mas essas conversas ficam dentro do balneário. Exijo respeito aos meus jogadores e se tiverem de criticar alguém, critiquem-me a mim.

BdFCC: Estivemos perto de ver o Moreira regressar, não se concretizou. Não acha que o eixo central da defesa é uma das lacunas do plantel? O Índio tem tido excelentes desempenhos na posição mas a época é longa e as alternativas são poucas. Não sente necessidade de se reforçar nesse sentido?
JV:
O Moreira não está entre nós devido a problemas familiares graves. Teve que se ausentar para o Norte e até já tinha assinado pelo nosso clube. O Índio tem estado muito bem e creio que esta até é a posição dele. Tem entrega e luta imenso, apesar da idade e com muitas conquistas na sua carreira ainda tem legítimas ambições. Mas apesar de tudo faz falta um central mas que acrescente qualidade ao plantel e não mais um. Posso garantir que estamos no mercado e dentro de 3/4 semanas teremos um central de peso. Em Sacavém jogaram Conchinhas/Romão e tiveram simplesmente 10 estrelas, por isso com as polivalências necessárias temos alternativas.


BdFCC: Para finalizar, costuma visitar o blog? O que acha deste nosso espaço?
JV: Realmente todas as segundas-feiras vou ao blog que é quando tenho mais disponibilidade. Acho um trabalho exemplar para a divulgação do clube. Acho as vossas críticas construtivas muito interessantes, pois elas ajudam-nos a sermos melhores. Dou-vos os parabéns porque fazem um excelente trabalho na divulgação do clube, da vossa terra e ao mesmo tempo do vosso concelho. É muito interessante e estarei sempre disponível para o que necessitarem.


E assim damos por finalizada a Grande Entrevista com o nosso treinador, o homem que pode levar o clube aos bons resultados. Agradecemos a forma cordial e elevada com que nos recebeu no seu local de trabalho e que desde a primeira hora se mostrou interessado em dar esta entrevista.

3 comentários:

Bancada Central disse...

Os meus parabéns aos intervenientes, entrevistador e entrevistado ao mais alto nível.
João Vitorino estou certo que tudo fará para levar o FC Crato o mais longe possível, pois bem, desejo-lhe a maior sorte do mundo, a todos os níveis.

Um abraço

Cratolândia disse...

Excelente entrevista, o mister João Vitorino a demonstrar que é de facto uma pessoa humilde e com bastante caracter.
Quando um seu amigo lhe disse que ele a nível de conhecimentos estava um passo à frente, não duvido nada, pois já presenciei diversos treinos dados por ele. Está sempre a conversar com os jogadores a ensinar-lhes por que motivo fazem isto ou aquilo.
Sabe fazer o trabalho de casa.
Pois com poucos ovos tem feito uma excelente omolete, não são os orçamentos que jogam e ganham, mas sim os jogadores e até à data o FCCrato tem sido uma boa equipa muito por culpa do excelente trabalho do mister João Vitorino.

Parabéns e viva o FCCrato.

Anónimo disse...

lol...conheço um colega que tirou o nível 2 em Santarém, com este senhor, e não partilha da mesma opinião quanto à sua prestação como um dos melhores, nem como tendo processos inovadores....não basta dizermos que somos humildes, mas termos atitudes que o demonstrem.